Como vender a ilusão como um produto


ilusão como produto
Um mendigo não pede dinheiro. Ele vende um produto e é pago por isso. Ele vende a sensação de que, pelo menos uma vez no dia, o cidadão fez uma boa ação. Uma ilusão.

O carinha da Teologia da Prosperidade vende ilusão.

A turma que vende segredos de sucesso na internet vende ilusão.

Esse produto tem forte demanda e rende dividendos que superam os salários de muita carteira assinada. Se, em um dia, de dois em dois reais, um pedinte chegar a R$ 100, em um mês ele tem R$ 3 mil livres de impostos. É uma média tosca, existem as sazonalidades, períodos de chuva, escolha do ponto, mas serve como aproximação.

Na minha caminhada, avistei um sujeito que já é familiar; negro, com uma má formação de nascença, do tamanho de uma criança de seis anos; tem os pés tortos e caminha de um jeito peculiar, mas com desenvoltura. Simpático e acolhedor como poucos vendedores. Em um intervalo de poucos segundos, vi duas pessoas lhe entregarem cédulas.

Ou melhor, adquirirem um produto.

Na porta do banco, um músico tentava vender CDs para transeuntes que aproveitavam o dinheiro do início do mês para pagar as contas nos caixas eletrônicos. Era triste; cada um que ele tentava convencer virava o rosto, um após o outro, com um incômodo palpável. O cara forçava a barra, e sua música -- talvez seja boa -- ficava soterrada sob a tentativa malograda de convencer possíveis clientes. Tudo o que eles viam era um cara desesperado, não um autor de boas músicas.

Seu produto não era a música. Era o desespero. Para isso, não há demanda.

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