A descoberta do grafeno causou euforia, mas só agora, dez anos depois, os primeiros avanços derivados do material começam a aparecer
Lembra-se do grafeno? O avançado material — composto de uma rede de átomos de carbono — pode estar pronto para um retorno, ainda que um mais calmo. Quem diz isso é Julia Attwood, analista da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), em uma apresentação na Cúpula do Futuro da Energia do BNEF, semana passada. Pesquisadores estão estudando maneiras de usar o grafeno em baterias.
O material tem potencial para aumentar significativamente o desempenho dessa tecnologia tão necessária.
Super leve, eficiente condutor de calor e eletricidade e, grama a grama, mais forte que o aço, o grafeno estava em alta cerca de uma década atrás. Em 2010, os cientistas que primeiro o extraíram ganharam o Prêmio Nobel de Física. “A rede atômica perfeita”, disse o anúncio.
Fama e fortuna se seguiram. Muito dinheiro foi injetado, os pedidos de patentes dispararam e surgiram esperanças de que o grafeno poderia mudar tudo, de eletrônicos a compostos de fibra de carbono para biotecnologia. Então, tão rápido quanto a euforia apareceu, ela desacelerou na medida em que a cadeia de suprimentos se mostrou complexa e o material, muito caro para se produzir.
“O grafeno deveria ser tudo”, disse Attwood, analista de tecnologias emergentes, em entrevista. “Ele realmente sofre porque pessoas acham que não está cumprindo o seu potencial, o que não é bem verdade”.
Embora o grafeno ainda não esteja pronto para o seu grande momento — por um lado, ainda é muito caro para processar —, pesquisadores avançaram silenciosamente a tecnologia nos últimos anos e estão começando a fazer incursões no armazenamento de energia. Nesse campo, o material pode ajudar os fabricantes de baterias — que já investiram bilhões de dólares em técnicas de produção em massa destinadas a cortar custos — a alcançarem novas melhorias tanto no tempo de carregamento quanto na capacidade de armazenamento.
Em novembro, o Instituto Avançado de Tecnologia da Samsung anunciou que seus pesquisadores desenvolveram uma “esfera de grafeno”, um material que permitiria que as baterias de íons de lítio carregassem cinco vezes mais rápido e tivessem 45% a mais de capacidade. Isso, por si só, poderia ter grande impacto tanto na eletrônica de consumo quanto na indústria automotiva.
“As pessoas estão preocupadas com a comparação de encher o tanque de gasolina e carregar a bateria do seu carro”, disse Attwood. “De repente, isso não é um problema, porque você só tem que parar por 10 minutos e pode tirar mais 300, 500 km do seu carro.”
Dada a loucura em torno do grafeno na última década, ele também oferece um estudo de caso único sobre como as startups em tecnologias emergentes podem resistir a um interesse público inconstante.
Uma empresa, a Skeleton Technologies, da Estônia, concentrou-se no armazenamento de energia — “uma indústria que precisa de inovação a qualquer custo”, diz Attwood. Outra empresa, a Applied Graphene Materials, levantou US$ 18 milhões em uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). “O preço das suas ações caiu muito, mas eles já são um nome estabelecido na indústria e estão prontos para surfar no ressurgimento do grafeno”, disse Attwood.
Um dia, o grafeno poderá proporcionar todo tipo de dispositivos modernos e descolados — de celulares flexíveis a revistas que se conectam à internet. Até lá, provavelmente continuará melhorando as coisas de maneira discreta, muito diferente de seu momento de destaque de dez anos atrás.
“Na verdade, gosto que isso mude muitas coisas sem que percebamos”, disse Attwood. “Isso é o que um bom material é. Não deveria ser óbvio em suas melhorias. Deveria ser parte do mobiliário, literalmente.”
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